2) Penso na obra de J. M. Coetzee como um desdobramento contemporâneo dessas ideias: nesse mesmo período, Coetzee publica Dusklands (1974), In the Heart of the Country (1977), Waiting for the Barbarians (1980), Life & Times of Michael K (1983) e Foe (1986), ficções nas quais a capacidade de expressão de si está sempre ligada a uma resistência (e, frequentemente, a uma resistência que se transforma em sujeição) contra um sistema repressivo de adequação dos corpos e dos afetos. Nos dois primeiros, a junção da "land" com o "country" (além da mediação estabelecida pelo "heart") fala dessa origem (substancial, essencialista) que é sempre cada vez mais recuada e inacessível.
3) A dinâmica fluida entre dominação e auto-desenvolvimento é uma tentativa de completar a ultrapassagem de certas dicotomias ainda em operação no século XIX, desde Marx e Freud, por exemplo (consciente e inconsciente; poder legítimo e ilegítimo). De resto, a dimensão do poder em Foucault carrega sempre uma dimensão estética - tanto pela via daquilo que Benjamin chamou de "estetização do político" quanto pela via daquilo que Bataille chamou de "parte maldita" -, algo que é materializado na performance do corpo e na plasticidade de suas operações (o lábio leporino de Michael K; a língua cortada de Sexta-feira).
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