2) Saer insiste nesse ponto em vários outros de seus ensaios: a literatura deve deixar marcas, deve ser trabalhosa, desconfortável, distanciada do senso comum e da naturalidade das estratégias comunicativas do cotidiano (e nisso está um ponto de contato muito produtivo entre Saer e Puig, que Ricardo Piglia explora em seu seminário/livro Las tres vanguardias, pois Puig ataca do interior esse discurso midiático que Saer denuncia do exterior). Ao exemplo submisso de Eco (que se submeteria à lógica do mercado e às facilidades midiáticas), Saer contrapõe o exemplo de Cervantes - posicionando o Quixote ao lado do Tristram Shandy e de Madame Bovary como ficções que querem ser "tomadas ao pé da letra", nem essencialmente ligadas ao contexto histórico, nem acriticamente ligadas a um espaço imaginativo feito de analogias superficiais.
3) Outro elemento fundamental na argumentação de Saer contra Eco é o uso de Proust: uma "falsificación notoria de Eco", escreve Saer, "es atribuir a Proust un interés desmedido por los folletines". Para Saer, esse desvio utilizado por Eco - levar Proust em direção ao folhetim - é um "recurso teatral" que visa dar legitimidade ao seu próprio trabalho (ao encontrar o folhetim na Recherche, Eco cria seu próprio precursor: busca convencer sua audiência que o apelo popular já está em Proust e, consequentemente, pode estar também em O nome da rosa). O folhetim é apenas uma cortina de fumaça: "Es detrás de la Recherche que Eco pretende ampararse, no del supuesto gusto de Proust por los folletines".
Achei tão curioso por não conseguir conceber como se consegue ir tão longe na análise literária desta forma
ResponderExcluirSempre achei uma perda de tempo e uma especulação brutal
Talvez por isso gostei do blogue
😊