"Pode-se dizer, aliás, de Goethe que ele próprio também era metade estoico, metade epicurista; por exemplo, ele desejava intensamente cada instante presente como um estoico e dele desfrutava como um epicurista. Haveria muito a dizer sobre esse fenômeno na tradição de pensamento ocidental. Destacaria somente um exemplo que apresenta, aliás, alguma analogia com Thoreau, quero falar do Rousseau dos Devaneios de um caminhante solitário, no qual se encontra a um só tempo o sensualismo epicurista, quando o barulho das ondas e a agitação da água bastam para lhe fazer sentir sua existência com prazer ('Do que se desfruta numa situação semelhante? De nada exterior a si, de nada senão de si mesmo e de sua própria existência; enquanto esse estado dura, cada um basta a si mesmo como um Deus'), mas também a comunhão estoica com a natureza, quando ele toma consciência do fato de que ele próprio é uma parte da natureza"
(Pierre Hadot, Exercícios espirituais e filosofia antiga, trad. Flavio Loque, É Realizações, 2014, p. 308)
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