1) A linguagem é fascista porque obriga a dizer, afirma Barthes na Aula. O projeto ficcional de Thomas Bernhard parece tanto um questionamento quanto uma aplicação dessa máxima. Aquilo que obriga Bernhard a usar a linguagem de forma maníaca é precisamente seu desgosto diante de uma visão de mundo que se apresenta como imutável ou tradicional - aquilo que é herdado, que é estabelecido, o familiar, tudo de bom tom e de bom gosto, é esse conjunto de premissas sociais que desperta o ódio de Bernhard. Mas o caráter fascista da linguagem é, de certa forma, também um espelhamento do aberto fascismo comportamental (no passado e no presente) de tantos personagens de Bernhard (especialmente o pai em Extinção).
2) Nada de humanista em Thomas Bernhard - nesse ponto ele está com Heidegger e seu questionamento da necessidade de resgatar o valor do humanismo e de suas práticas. Em Bernhard, o humanismo é traduzido pelas convenções, pela opressão da casa paterna e pelo intenso e contínuo trabalho de recalcamento do estrangeiro, do atípico, do desvio. É por isso que em Extinção o narrador Murau se exila em Roma. Tudo que diz respeito à casa paterna está corrompido - é falso e postiço, ou, em última análise, "burguês": uma literatura pequeno-burguesa é o que temos diante de nós quando temos diante de nós a literatura alemã, mesmo os grandes exemplos dessa literatura alemã não são outra coisa, Thomas Mann, o próprio Musil. Essa literatura é burguesa até a medula (Extinção, tradução de J. M. Mariani de Macedo, p. 445).
3) O pai de Murau é apresentado como um "nazista forçado" e sua mãe como uma "nacional-socialista histérica". Eles saudaram Hitler com júbilo, e depois da guerra esconderam em sua imensa propriedade vários chefes sobreviventes do Führer. Murau recebe em Roma um telegrama de suas irmãs, informando da morte dos pais e do irmão em um acidente. No enterro, os nazistas estão presentes e saúdam o caixão do velho camarada. De forma surpreendente - e um pouco abrupta -, Murau, que agora é herdeiro e novo senhor da casa paterna, decide por uma espécie de reparação: presenteia toda a propriedade à comunidade judaica de Viena.
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