segunda-feira, 10 de junho de 2013

O lápis do avô de Sebald

Poucas páginas depois do prefácio que escreveu para seu livro de ensaios Logis in einem Landhaus, o prefácio no qual fala do enfermeiro de Robert Walser e do lápis que Robert Walser levava sempre no bolso de seu colete, Sebald passa a escrever sobre Johann Peter Hebel (1760-1826), escreve sobre o texto que Walter Benjamin publicou em 1926 em homenagem a Hebel e, principalmente, fala de suas recordações de infância e de seu avô. Sebald lembra da leitura do curioso projeto literário de Hebel, O amigo da família renana, um almanaque, uma espécie de compêndio de histórias breves, lendas, receitas, curiosidades. Sebald escreve: "Não obstante sua inclinação profissional pela didática, Hebel nunca se coloca como o centro de sua narrativa, mas sempre um pouco à margem, parecido com os fantasmas, que com frequência aparecem em suas histórias". A sensação é a de que, para Sebald, as histórias de Hebel são como histórias de fantasmas para adultos, para usar a expressão de Aby Warburg. "Lembro de meu avô", escreve Sebald, "cuja linguagem era muito semelhante àquela do amigo da família renana (...) e lembro como meu avô sempre comprava o almanaque de Kempten, escrevendo com seu lápis nas folhas em branco informações como os aniversários de parentes e amigos, o primeiro gelo, a chegada do föhn, e tomava notas sobre como destilar o vermute ou o licor de gentiana".    

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