Eu olho para a pilha de não-lidos e tomo até um susto: dois livros de Bruce Chatwin que mal passei os olhos - e desde que li Utz, algumas semanas atrás, não há dia que não lembre da figura daquele colecionador pacífico e retraído, parente dos tios bósnios de Aleksandar Hemon, por exemplo (que são parentes daqueles arquivistas dos resíduos que encontramos em Bohumil Hrabal). Os livros de Chatwin convivem pacificamente com Perder teorías, um livrinho fino de Vila-Matas que saiu ano passado. Perder teorías, reza o prefácio, serve de suplemento a Dublinesca - e como não gostei muito desse último, seu suplemento continua ali, na pilha. Às vezes me perco na anedota, na busca por uma história pitoresca, algo que possa contar por aí, algo que dê a medida exata do esforço de vasculhar as páginas: é o que acontece com aquela história mínima que Dashiell Hammett conta em O falcão maltês, do homem que foge depois de quase ser esmagado por uma viga; ou aquele mendigo absurdo que cruza uma história de Saul Bellow. Às vezes me perco na palavra exata, persigo um significante, fico caçando uma modulação, um ritmo singular, uma deriva turva que acaba não levando a nada: como aquele dia em que fui atrás das lagostas, ou quando fui atrás dos usos da palavra comadreja nos contos de Roberto Bolaño. Alguns deles me olham da pilha e parecem dizer: desista.
Há uma hora
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