sexta-feira, 4 de março de 2011

Humanismo e massacre

1) Para Peter Sloterdijk, o filme O massacre da serra elétrica marca um ponto de contato entre o arcaico e o moderno. O curioso é que a história do filme se passa no ano de 1973, que, conforme vimos por aqui, é um marco de encerramento do modernismo. Mas não importa - o ponto de Slotedijk é que com O massacre da serra elétrica passamos a experimentar o horror e a violência em níveis semelhantes àqueles encontrados nos espetáculos romanos de morte e carnificina. Não é à toa que a ação de Massacre se dê nas voltas de um matadouro. Mas esse também não é o ponto de Sloterdijk - a reflexão sobre os espetáculos romanos ocupa duas páginas, e a menção ao filme está em uma nota de rodapé. Mas é pra isso que servem as notas de rodapé: para despertar a curiosidade.
2) Está em jogo um controle do humano, que oscila entre os estímulos bestializadores e uma auto-dominação pela via da negação. Há uma correlação entre o controle das massas pelo espetáculo romano e o controle atual pela cultura de massas. Sloterdijk afirma que o que animou o humanismo em seus primórdios foi esse embate entre a contenção (leitura filosófica, disciplina) e a festa (as influências bestializadoras do espetáculo). O controle sobre o sujeito não ocorre quando ele finalmente abandona o espetáculo, pelo contrário: o controle opera na oscilação, na impossibilidade de escolha que gera a domesticação.
3) Algo da ordem do que vemos também hoje: aproveite o crédito, mas aprenda a economizar; aproveite as promoções do Burger King, mas não perca as dicas de saúde do Globo Repórter; compre o último do Sloterdijk, mas não deixe de conferir o filme da Bruna Surfistinha, etc. Não se trata de conferir valor a qualquer um dos lados do binômio (embora percamos tempo com isso também); mas de perder a vida no interminável imperativo de escolher.

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