Aleksandr II e seu cão, Milord, 1870 |
1) Nikolai Leskov publica, em 1884, um conto intitulado "Alexandrita (Um fato natural à luz do misticismo)". É uma abordagem da "metáfora do joalheiro" completamente diversa daquela de Sándor Márai. O conto é dividido em onze breves seções - Leskov chama o relato de "pequena comunicação", e mistura um pouco de distanciamento pseudo-científico (ao falar das pedras preciosas) com o tal misticismo prometido no subtítulo e, mais importante, com um tom alegórico, como se estivesse dizendo algo além daquilo que está, de fato, dizendo: as minas de onde se retiraram os melhores exemplares da pedra de Aleksandr II foram inundadas pelas águas de um rio transbordado.
2) A "alexandrita", conta Leskov, foi descoberta no dia em que o imperador Alexandre II atingia a maioridade ("17 de abril de 1834") - por isso a homenagem. O imperador (seu pai foi Alexandre I, que derrotou Napoleão) sofreu vários atentados ao longo de sua vida: em 1879, caminhando pelos jardins de uma guarnição militar, ele vê um jovem vindo em sua direção com um revólver - corre em zigue-zague, escapa de cinco disparos e domina o assassino; no ano seguinte, o imperador chegou atrasado a um jantar no qual onze pessoas morreram e trinta ficaram feridas por conta da explosão de uma bomba. Em março de 1881, contudo, Alexandre II não conseguiu escapar da explosão - morreu sem as pernas e com os intestinos expostos.
3) A pedra que leva o nome do imperador, escreve Leskov, é impossível de ser falsificada: com a luz do dia, a alexandrita é verde; sob luz artificial, torna-se vermelha. O joalheiro místico que Leskov encontra no Bairro Judaico de Praga, na Cidade Velha de Kafka e do golem, se surpreende ao ver a alexandrita que ele porta: Veja só que pedra! Nela a manhã é verde e a noite sangrenta... É o destino, é o destino do nobre tsar Aleksandr! (Leskov, A fraude, tradução de Denise Sales, ed. 34, p. 165).
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