1) Num movimento que é bastante típico em sua obra, Leskov começa o conto com o motivo central (a pedra, a alexandrita, Chrisoberil Cymophone), abandona o tema, acrescenta algumas digressões e, quando o leitor já esqueceu o mote inicial, ele o resgata e finaliza a história abruptamente. Leskov (é ele que narra, é ele o amador das pedras preciosas) compra um anel com uma alexandrita - pedra raríssima, que muitos joalheiros conhecem "só de ouvir falar" - depois da morte do antigo dono, "uma das pessoas memoráveis do reinado de Aleksandr II".
2) O conto de Leskov é o resultado de uma febre, de uma mania, de uma implicância: "sempre tive a fraqueza, não sei se feliz ou infeliz", escreve Leskov em uma carta a um amigo, autor de um livro sobre pedra preciosas, "de me deixar arrebatar por algum tipo de arte. Foi assim que me apaixonei pela pintura de ícones, pelas canções populares, pela medicina, pela restauração etc. Pensei que isso tivesse passado, mas me enganei: as nossas conversas sobre o seu livro Pedras preciosas arrastaram-me para uma nova paixão, e, como de cada uma das minhas paixões sempre busquei criar algo 'de volta', agora isso está se repetindo. Sinto uma vontade irresistível de escrever um conto fantástico-supersticioso, capaz de despertar a paixão pelas pedras preciosas e, junto com ela, também a fé em sua influência misteriosa".
3) O que há inicialmente de supersticioso no conto é a devoção ao imperador: depois da morte violenta, escreve Leskov, "diversos veneradores do falecido soberano elegeram as coisas mais variadas" para torná-lo presente na vida cotidiana. Fetiches que representem o corpo do soberano, fotos em miniatura, medalhões e, a versão mais rara, um anel com uma alexandrita engastada - uma "lembrancinha para nunca mais tirar da mão", escreve Leskov. O culto da personalidade do soberano, de seu corpo, sua mitologia e sua sobrevida simbólica - atalhos que levam diretamente à opressão, à ditadura, ao totalitarismo (Canetti, Massa e poder; Todorov, Memória do mal, tentação do bem).
3) O que há inicialmente de supersticioso no conto é a devoção ao imperador: depois da morte violenta, escreve Leskov, "diversos veneradores do falecido soberano elegeram as coisas mais variadas" para torná-lo presente na vida cotidiana. Fetiches que representem o corpo do soberano, fotos em miniatura, medalhões e, a versão mais rara, um anel com uma alexandrita engastada - uma "lembrancinha para nunca mais tirar da mão", escreve Leskov. O culto da personalidade do soberano, de seu corpo, sua mitologia e sua sobrevida simbólica - atalhos que levam diretamente à opressão, à ditadura, ao totalitarismo (Canetti, Massa e poder; Todorov, Memória do mal, tentação do bem).
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