1) Imre Kertész também fala dessa fixação de Krúdy com a Idade Média. Há um ensaio chamado "Cartas patrióticas", reunido na coletânea A língua exilada, no qual Kertész fala de sua descoberta de Krúdy. O curioso é que na última seção da edição brasileira de O companheiro de viagem, chamada "Sugestões de leitura", o autor anônimo menciona o ensaio "Budapeste, Viena, Budapeste. Quinze bagatelas", de Kertész, como momento de referência a Krúdy. Mas não é o caso, Krúdy só é mencionado de passagem. O ensaio que fala bastante de Krúdy é "Cartas patrióticas". Os dois ensaios estão em A língua exilada. Sei que essa questão tem tirado o sono de muita gente, durante muito tempo. Essas linhas são minha contribuição para mitigar essa angústia.
2) Kertész afirma que a obra de Krúdy sempre sofreu com o preconceito - o próprio Kertész achava que Krúdy estava irremediavelmente restrito a um romantismo nostálgico, a um estilo anedótico, etc. Mas não era o caso. Kertész afirma que Krúdy tem um pacto com a morte e com as facetas trágicas da vida cotidiana. A "energia criadora inesgotável" de Krúdy, segundo Kertész, é movida por alguns sentimentos fundamentais: o "erotismo cósmico" (seja lá o que isso quer dizer), a companhia de uma culpa ardente, o desejo ávido de redenção e a noção permanente da presença da morte. E Kertész continua: Em sua arte há, na essência, um traço profundamente arcaico que o aparenta com Bosch, Breughel, Goya, esses grandes pintores apocalípticos, e com a Idade Média - naturalmente, em meio aos cenários da cidade grande, moderna.
3) Esse arcaísmo produtivo é fundamental para a literatura. Podemos pensar em Flaubert, que, assim como Bosch, também pintou as tentações de Santo Antão. E essa sobreposição do medieval com o moderno, que Kertész encontra em Krúdy, alguém poderia encontrar também em Perturbação, de Thomas Bernhard, com aquela perambulação campesina eivada de ressentimento e aprendizado amargo - como n'A estrada da vida, também de Bosch.
2) Kertész afirma que a obra de Krúdy sempre sofreu com o preconceito - o próprio Kertész achava que Krúdy estava irremediavelmente restrito a um romantismo nostálgico, a um estilo anedótico, etc. Mas não era o caso. Kertész afirma que Krúdy tem um pacto com a morte e com as facetas trágicas da vida cotidiana. A "energia criadora inesgotável" de Krúdy, segundo Kertész, é movida por alguns sentimentos fundamentais: o "erotismo cósmico" (seja lá o que isso quer dizer), a companhia de uma culpa ardente, o desejo ávido de redenção e a noção permanente da presença da morte. E Kertész continua: Em sua arte há, na essência, um traço profundamente arcaico que o aparenta com Bosch, Breughel, Goya, esses grandes pintores apocalípticos, e com a Idade Média - naturalmente, em meio aos cenários da cidade grande, moderna.
3) Esse arcaísmo produtivo é fundamental para a literatura. Podemos pensar em Flaubert, que, assim como Bosch, também pintou as tentações de Santo Antão. E essa sobreposição do medieval com o moderno, que Kertész encontra em Krúdy, alguém poderia encontrar também em Perturbação, de Thomas Bernhard, com aquela perambulação campesina eivada de ressentimento e aprendizado amargo - como n'A estrada da vida, também de Bosch.
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