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Respondendo ao questionário que uma revista francesa lhe enviou, Susan Sontag levanta a questão da diferença entre escrever sobre um autor e simplesmente gostar desse autor. Sontag diz que nem sempre os autores prediletos de um crítico (de um leitor que coloca suas predileções por escrito) são os autores mencionados por esse crítico. Ela dá o exemplo de Shakespeare: é um dos escritores aos quais ela sempre retorna, mas sente que não tem nada a dizer sobre ele – e ela deixa claro: não por falta de leitura ou por escassez do autor; talvez muito pelo contrário, a intensa admiração bloquearia o mecanismo crítico, que funciona tão bem com tantos outros. E Sontag também salienta o lado curioso dos críticos do crítico: se você nunca citou é porque não gosta, se você nunca escreveu sobre é porque não leu, descartou. E como saber se o crítico gosta se ele não escreve sobre?
Observei os autores que citei apenas uma vez, os meus prediletos que tem apenas uma menção nas etiquetas do blog. Não há tempo para falar sempre de todos, ainda que sejam lidos com atenção há anos. Thomas Bernhard, por exemplo, o predileto de Bernardo Carvalho, o que já constrói uma linhagem consistente, interessante – isso sem mencionar sua arte sobre a arte, Wittgenstein, Glenn Gould, gostaria de ter tempo para ler mais e melhor, decifrar essas homenagens soterradas de bile. E Barthes, que também está lá, gostaria de ter tempo para ler mais e melhor sobre sua viagem ao Marrocos, sobre sua leitura atrasada de Michelet. E Philip Roth, grandioso, gostaria de ter tempo para reler com atenção Sabbath e Complô contra a América, ler Complô como Coetzee leu naquela resenha rigorosa, que me pegou desprevenido, pois eu havia recém saído da leitura de Roth e Complô me parecia irretocável. E Paul Valéry, mencionado por conta de sua amizade com Marcel Schwob, é o Borges europeu – queria ter tempo para esmiuçar o método de Da Vinci, reler seu livro sobre Degas, pensar a ubiquidade, etc. Martín Kohan, um bom escritor em um cenário concorrido, político sem ser chato, pensa a imagem, pensa a cultura de massa, gostaria de ter tempo para ler melhor seus textos sobre Benjamin. Lévi-Strauss nem se fala – gostaria de ter tempo para escrever um livro só sobre sua viagem com Breton para a América, fugindo do nazismo. E Georges Perec é importante para mim porque foi importante para Vila-Matas e para Antonio Marcos Pereira, e porque é citado no último livro do Paul Auster, e porque sobrevive, afinal de contas, também em Muriel Barbéry.
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