O verdadeiro nome de Alejandra Pizarnik era Flora. Alejandra foi uma criação da adolescência. Seus pais vieram da Rússia. Nasceu em 1936, morou em Avellaneda, Buenos Aires e Paris, onde conheceu Cortázar e Octavio Paz. Escreveu poesia. Morreu em setembro de 1972, por conta de uma dose excessiva de soníferos. Era miúda, usava o cabelo sempre muito curto e mantinha os dedos sempre em movimento. Sua voz era rouca e ofegante. Ela mantinha na cabeceira da cama, exatamente como fazia Bolaño com a frase sobre a anarquia em polonês, um pequeno aviso de Artaud: é preciso, acima de tudo, ter vontade de viver.
Dois grandes leitores contemporâneos foram muito amigos de Alejandra: César Aira e Alberto Manguel. Considero Aira e Manguel meus amigos. Fico levemente melancólico quando procuro imaginar o sofrimento dos dois quando Flora morreu. Em 1972 tanto Aira quanto Manguel tinham apenas 23 anos. Frequentavam o apartamento minúsculo de Alejandra no centro de Buenos Aires, discutiam literatura, tomavam cafés, etc. Manguel conta que conheceu Flora em 1967, quando pediu a ela que reescrevesse uma história de Shakespeare. Logo lhe chamou a atenção o quadro-negro pendurado na parede: era ali que Alejandra trabalha seus poemas, apagando mais do que escrevendo. Escolher a palavra definitiva era sempre um esforço físico.
Flora tinha asma e era insone. Também era paranoica: achava que os vizinhos esmurravam as paredes para mantê-la acordada. Usava a psicanálise para explorar (e canalizar) seu sofrimento (para) dentro da poesia. Usava o surrealismo para gargalhar nervosamente da clausura que era (e é, para sempre) o mundo. Alejandra lia Bataille, Cervantes, Borges, Michaux, Stendhal, Olga Orozco e Kafka. Flora era rigorosa em sua poesia: concisa, ritmada, burilada ao extremo, aguda, perspicaz, lancinante.
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Seria uma boa amiga.
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