segunda-feira, 3 de maio de 2010

A primeira parte de Dublinesca

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Dublinesca, o último livro de Enrique Vila-Matas, é dividido em três partes: maio, junho e julho. É um livro grande, com mais de 300 páginas, e lembra, já de saída, O mal de Montano e Doutor Pasavento. Para mim não fez grandes diferenças ele ter mudado da Anagrama para a Seix Barral. Talvez a diagramação e a legibilidade da Barral sejam um pouco melhores, mas eu ainda prefiro as capas da Anagrama, ainda que feias. Um pouco da primeira parte de Dublinesca, em tópicos:


1) O protagonista: O livro é narrado em terceira pessoa, o que já complica um pouco as coisas. Não é a praia do Vila-Matas; o que ele fez de melhor, fez com a primeira pessoa. Ele agora narra, onisciente, as andanças do editor Samuel Riba, recém-aposentado. É um sujeito meio enfadonho – e Vila-Matas desloca a angústia dos antigos personagens escritores, que queriam escrever ou não escrever algo sensacional, para um editor cuja maior ambição era encontrar um gênio para publicar.

2) A bebida: Vila-Matas faz menção ao esgotamento físico e psíquico que Riba sofreu dois anos atrás, e ao consequente afastamento da bebida. Vila-Matas já havia falado sobre isso, na primeira pessoa, em Dietario e em entrevistas, ou seja, o problema que ele mesmo enfrentou quando estava em viagem na Argentina e teve que se internar. Desde então, não sai mais tanto à noite e parou de beber. Sabendo disso, as partes de Dublinesca reservadas para as lamentações de Riba sobre a ausência da bebida ficam até interessantes. Ele fala bastante sobre a bebida na primeira parte.

3) Viagem: Maio é o mês em que Riba decide ir a Dublin para comemorar o 16 de junho na cidade do Ulisses. Fora isso, relembra viagens à França e fantasia com Nova Iorque e Paul Auster. As partes que fala de Nova Iorque são legais, mas ainda não mostra a vertigem do deslocamento que aparece, por exemplo, em Doutor Pasavento e Lejos de Veracruz. Muito pelo contrário: a vida do editor é bem estagnada, e o procedimento que Vila-Matas utiliza com a Rue Vaneau em Pasavento ele parece espelhar na Calle Aribau, onde moram seus pais, que ele visita toda quarta-feira, mas o resultado é bem diferente.

4) Cotidiano: A relação com a esposa é muito semelhante àquela de O mal de Montano – o mesmo distanciamento e a mesma percepção dela de que ele está enlouquecendo. Até a cena de sexo é bem parecida: uma coisa que simplesmente acontece, depois de um desentendimento. Mas a questão do cotidiano aparece bem forte na leitura do Ulisses que, aliás, é o centro forte do livro. Essa primeira parte ainda ensaia a aproximação com o livro de Joyce, mas a intervenção da literatura sobre o prosaico, o rotineiro e o cotidiano começa a ser considerada e é interessante.

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