Está tudo lá, afinal de contas. Basta lembrar de Silvio Salvático, “jogador de futebol e futurista”, como escreve Bolaño. Ou dos fabulosos irmãos Schiaffino, Argentino e Italo, poetas, fascistas e assíduos colaboradores das torcidas organizadas do futebol argentino. Os exemplos são muitos, estão em 2666, no Carlos Wieder de La literatura nazi e de Estrela distante, em vários contos, nas surras, nos linchamentos, na violência gratuita – a percepção de Bolaño de que o fascismo desliza, se camufla, prolifera sobretudo nos campos completamente ignorados pelas altas esferas (oficinas de poesia na periferia, ajuntamentos de torcedores fanáticos, a penumbra dos cafés).
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Jacques Deza, o narrador de Seu rosto amanhã, ainda no primeiro tomo, esbarra em uma festa com um imbecil chamado Rafael de la Garza – e o sujeito fica enchendo os ouvidos de Deza com comentários na linha “no tempo da ditadura é que era bom”, etc. Ainda que um imbecil, de la Garza dá a oportunidade para que Marías/Deza discorra brevemente sobre o fascismo e a literatura contemporânea (uma digressão que poderia ter durado mais, ao contrário de outras, que duram muito mais do que o necessário). Mais do que temas fascistas há um estilo fascista que percorre grande parte da literatura contemporânea espanhola, escreve Marías, um cacoete difícil de reconhecer, mas que persiste. Seria interessante deslizar essa percepção de Marías e ver o que mais circula de fascista entre nós, além de Dunga e da Brahma.
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A discussão sobre fascismo é só naquele momento, mas a discussão sobre direita x esquerda é retomada depois com o Toby Rylands.
ResponderExcluirAh, no Seu Rosto Amanhã 2 - O Retorno, Rafita volta em full effect.
Por essa via, chegamos perto de universalizar o fascismo, ou demonstrar que, in potentia, ele subjaz a qualquer atividade humana. Exemplo fácil estaria nos pacatos e doutos literatos espancando o taxista - imolar reaça vale?
ResponderExcluirNão vou falar que o post é bom porque isso já está ficando sem graça e eu tenho que poupar algum pra orelha do seu livro. :)
essa metáfora da guerra é completamente desgastada...mas não acho que o Dunga faça esse estilo, acho q é a mídia q adoro um bá-fá-fá pra ter o q falar...
ResponderExcluirA razão de parecer que o fascismo é "universalisável" a ponto de podermos imolar o taxista reaça (ótima ideia!) chamando o sujeito de "filhotinho de Mussolini", é que o fascismo só foi possível graças à tudo aquilo que caracteriza nosso tempo: a publicidade, o discurso de massa, a hierarquização e divisão da força de trabalho na era industrial e a contabilização das vidas e destinos humanos como mero elemento de cálculo (tão comum nas decisões de governo e no cotidiano de qualquer empresa).
ResponderExcluirPor favor, não pensem que eu quero crucificar os publicitários, os empresários e os contadores, além dos taxistas e técnicos de futebol... Mas, como disse o Kelvin, seria interessante ver o que mais circula de fascista entre nós, e é justo nesses elementos tão característicos de nosso tempo que podem surtir os focos mais fortes de fascismo, de modo que é bom ficarmos alertas para que o "vírus" nunca se espalhe através deles.
Anauê! ;-)