segunda-feira, 10 de maio de 2010

Napoleão


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1) Napoleão pode ser lido como um mensageiro da destruição, como a própria destruição encarnada – um visionário, um anjo da história deixando resíduos fumegantes como herança – ou como uma personagem permanente. Pensemos primeiro em Sebald, que era, como sabemos, obcecado pela destruição (ao ponto de rastrear uma possível História Natural da Destruição): Napoleão está em Austerlitz – Napoleão praticamente nomeia Austerlitz – por conta da célebre batalha de Austerlitz. Talvez a pergunta central do livro de Sebald: até onde podemos cavar ao fim de uma guerra?

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2) Ainda Sebald: basta reler a primorosa primeira parte de Vertigem, toda costurada ao redor da figura de Napoleão – enquanto desenrola as histórias de Stendhal no front napoleônico. Próximo de Napoleão, Stendhal só podia ser Henri-Marie Beyle – o prosaico nome próprio que Sebald transforma em pseudônimo (ele nunca menciona o nome Stendhal, Beyle é apenas um soldado de Napoleão que resolveu escrever). Napoleão é um neutro, um absoluto.

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3) Em um breve texto sobre Wilcock, escrito para um jornal, Bolaño afirma: “por aqueles anos eu não tinha dinheiro para comprar livros e o que lia tirava da biblioteca (ali descobri Tomeo, ali li Lidell Hart e todos os livros que pude encontrar sobre as guerras napoleônicas)” - esse mesmo Tomeo, Javier Tomeo, que escreveu um romance chamado Napoleón VII, de 1999, que Bolaño conhecia. Aproveite agora que vai sair 2666 e preste atenção nas passagens em que ele menciona Napoleão, sobretudo na parte de Arcimboldi. Napoleão é o ponto de convergência de toda ideia sobre destruição e violência.

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A coleção de documentos que Stanley Kubrick tinha sobre Napoleão equivalia à segunda maior biblioteca sobre o tema do mundo, só perdendo para a coleção do próprio governo da França.

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