"Meus cinco anos (1958-1963) como estudante de pós-graduação em literatura em Harvard foram uma continuação intelectual de Princeton, no que dizia respeito à instrução formal. A história convencional e um pálido formalismo regiam a faculdade de literatura, de tal modo que para preencher os requisitos para minha titulação não havia possibilidade alguma de fazer algo que não fosse a progressão de um período literário a outro até chegar ao século XX. Como o Oriente Médio se distanciava mais e mais da minha consciência, o eventos mais significativos para mim eram coisas como a Nova ciência, de Vico, História e consciência de classe, de Lukács, Sartre, Heidegger, Merleau-Ponty"
(Edward Said, Fora do lugar: memórias, trad. José Geraldo Couto, Cia das Letras, 2004, p. 421)
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"18. 1. 42
Wiesengrund-Adorno aqui. Engordou, arredondou-se, e traz um artigo sobre Richard Wagner, não desinteressante mas limitado a cavoucar, ao modo de Lukács, Bloch, Stern, à procura de complexos, inibições, repressões na consciência do velho fabricante de mitos. Todos eles estão apenas reprimindo uma antiga forma de psicanálise"
(Bertolt Brecht, Diário de trabalho: volume II, 1941-1947, trad. Reinaldo Guarany e José Laurenio de Melo, Rocco, 2005, p. 50)
A escrita memorialística / autobiográfica / diarística por vezes oferece a performance do visionário: alguém que se comporta de modo distinto da manada, divergente com relação às modas e modismos, formando e defendendo sua independência por vezes de forma intuitiva, quase inconsciente. Parece quase uma exigência do gênero: nesse espaço de exceção e diferença, devo estar à altura da tarefa de registrar aquilo que escapa ao ordinário, e devo começar pela minha própria posição diante do mundo. Mesmo matriculado em curso de histórica excelência, o que Said decide salientar é a fixidez do currículo ("história convencional e um pálido formalismo") e a paulatina construção de sua independência, a partir de leituras fora do programa (Vico, Lukács, Heidegger, etc). Brecht, por sua vez, diante do contemporâneo Adorno (cinco anos mais jovem), resolve em poucas palavras o amplo pano de fundo (Wagner, Wagner-via-Nietzsche, o resgate de Wagner em pleno nazismo, etc) que decide a limitação dos argumentos de seu artigo ("reprimindo uma antiga forma de psicanálise").
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A escrita memorialística / autobiográfica / diarística por vezes oferece a performance do visionário: alguém que se comporta de modo distinto da manada, divergente com relação às modas e modismos, formando e defendendo sua independência por vezes de forma intuitiva, quase inconsciente. Parece quase uma exigência do gênero: nesse espaço de exceção e diferença, devo estar à altura da tarefa de registrar aquilo que escapa ao ordinário, e devo começar pela minha própria posição diante do mundo. Mesmo matriculado em curso de histórica excelência, o que Said decide salientar é a fixidez do currículo ("história convencional e um pálido formalismo") e a paulatina construção de sua independência, a partir de leituras fora do programa (Vico, Lukács, Heidegger, etc). Brecht, por sua vez, diante do contemporâneo Adorno (cinco anos mais jovem), resolve em poucas palavras o amplo pano de fundo (Wagner, Wagner-via-Nietzsche, o resgate de Wagner em pleno nazismo, etc) que decide a limitação dos argumentos de seu artigo ("reprimindo uma antiga forma de psicanálise").
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