sexta-feira, 24 de setembro de 2010

As primeiras impressões

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Descobri um caso curioso. Minha primeira impressão do último livro de Vila-Matas, Dublinesca, está muito distante das impressões que tive depois de ler o livro. Aquilo que valorizei como ponto-chave, como iluminação, como estímulo, simplesmente não existia, ou existiu muito pouco. Até certo ponto, esse é também o trabalho do crítico: fazer com que o livro saia sempre diferente do que de fato é. O procedimento é o mesmo que o próprio Vila-Matas fez com Gombrowicz, anunciando-o como influência sem nunca ter lido, baseado apenas em uma sensação, em um acúmulo de leituras intermediárias. Um pouco disso também está na valorização do romance russo, sempre em tradução, por parte do grupo vanguardista de Virginia Woolf - ou naquilo que costumam dizer: Shakespeare, assim como nós, não lia nem latim, nem grego ("minha ignorância do grego é tão perfeita quanto a de Shakespeare", escreve Borges no verbete "Epidauro" de seu Atlas).
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