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E não é que Beckett também está no próximo livro de Enrique Vila-Matas? Como se adivinhasse minhas atuais preocupações, o catalão, muito gentilmente, resolve escrever um romance que se passa em Dublin e articula a amizade de James Joyce e Beckett. O livro, Dublinesca, sai em março de 2010.
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Não posso pensar em outra coisa que não a amizade, ou ainda, a amizade mesclada de admiração: Joyce e Beckett ("nunca fui seu secretário; o ajudava por conta de sua vista, mas nunca escrevi suas cartas, por exemplo"), Vila-Matas e Paul Auster (Siri Hustvedt, esposa e escritora, também está na foto), e seus criativos contatos com Sophie Calle, a artista plástica, seja em Leviatã (dedicado a outro Amigo, Don DeLillo), seja em Exploradores del abismo - artista que englobou outros escritores em suas "ficções de parede": Ray Loriga, Jean Echenoz (que atualiza Perec de forma tão interessante em L'occupation des sols) - Vila-Matas e Sergio Pitol, essa amizade sim, mais parecida com a de Joyce e Beckett: Pitol mais velho, recebendo a visita de um Vila-Matas muito jovem em sua casa de Varsóvia - Pitol que é um grande Tio mais velho dos escritores mexicanos, seja Juan Villoro ou Ignacio Padilla (poucos livros são tão inteligentes quando Amphitryon), ou o melhor deles (que era, também, chileno): Roberto Bolaño. Os laços se multiplicam e não resta alternativa: é preciso embarcar na vertigem das filiações: Mario Bellatin leva a Joseph Roth; Edgardo Cozarinsky leva a Juan Rodolfo Wilcock; Ricardo Piglia leva a Luis Gusman; César Aira leva a David Toscana.
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São outros tempos, definitivamente: observe as lâmpadas de camarim, atrás de Vila-Matas, as cores vivas, a nitidez. Agora observe o casaco puído de Beckett, lá em cima, a granulação da imagem no sobretudo de Nathalie Sarraute ou os sapatos desbotados de Claude Simon. Dois futuros Nobel de Literatura em uma editora tão pequena: Editions de Minuit. Trata-se, como se houvesse qualquer dúvida, do tempo da montagem, da edulcoração, do espetáculo, da pose, da maquiagem, dos bastidores de talk-show, das transações milionárias - não que eu tenha qualquer coisa a dizer contra isso, só é curioso o abismo semiótico que se abre quando confrontamos duas imagens que teriam muito em comum (a amizade literária), mas cuja aproximação se detém, desconfiada, quase com repulsa.
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