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Leio o último livro de J.M. Coetzee, Summertime: um biógrafo vai atrás de figuras importantes na vida de um escritor chamado John Coetzee, que está morto. O que primeiro me assombra: a vastidão da consciência de Coetzee, que até de sua morte, e os desdobramentos ficcionais possíveis, cuida em vida (e obra). O jogo com as informações que foram dadas ao longo de anos e anos em outros livros, a reconstrução póstuma da obra, operada em vida e pelo autor, sem metaficção preguiçosa ou ironia pós-moderna. Uma verdadeira reflexão sobre o legado. Escrevendo sobre ele mesmo, no passado: why then does he persist in inscribing marks on paper, in the faint hope that people not yet born will take trouble decipher them?. A anotação data de 1972. Eu não era nascido em 1972.
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Vou precisar de muitas vidas dentro dessa que eu vivo para decifrar essa obra. O que intriga é o jogo suplementar entre forma e conteúdo que o Coetzee opera como ninguém mais faz. Diário de um ano ruim e agora Summertime: capítulos fragmentados, continuidade comprometida, sem afetação, com foco no relato, sem excesso, sem dispêndio gratuito de energia. A vida dos animais e Elizabeth Costello, mesma coisa: problematização das formas visuais de se organizar um relato, de se organizar os significantes, que, no fim das contas, potencializam o que ele efetivamente escreve. Não há dialética ou resolução possível dentro desse horizonte de contato entre forma e conteúdo.
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