sábado, 25 de setembro de 2010

Mais uma vez Parménides

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1) Parménides, de César Aira: mais do que declarar que o livro do famoso filósofo é apócrifo, ou seja, escrito por outro - Perinola, o ghost writer -, trata-se de declarar que ele não foi escrito, e continua sendo adiado, protelado.
2) Os absolutos se tocam, sempre diz César Aira. Parménides e Perinola estão tão distantes no tempo e tão localizados na história que se tornam presente permanente e figuras contemporâneas disformes, por conta do olhar microscópico da ficção. O olhar miniaturista de César Aira. De muito perto tudo é anacrônico.
3) Há outro ponto: Perinola se ressente continuamente de não estar servindo para nada. Diz que o filósofo o sustenta, lhe paga um salário e ele não produz. Perinola é uma máquina que não produz. O que ele produz é a não-produção, virtualidade, possibilidade, potência, dinheiro falso. Está sempre prestes a funcionar, mas sua função é sempre vazia, ainda que lhe defina, que lhe proporcione um lugar. Sua função é gastar, esvaziar, embora ele sempre acredite que seja acumular, melhorar. Perinola coloca em circulação um questionamento de seu próprio ser, de seu próprio lugar no mundo - a abstração que ele alimenta leva ao seu fim. No fim das contas, quem é o escritor? Aquele que nos oferece o relatório tardio daquilo que não aconteceu, ou aquele que acionou a máquina capenga?
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