*
- Escreve Octavio Paz, no livro El arco y la lira: "Desde Parmênides nosso mundo tem sido o da distinção clara entre o que é e o que não é. O ser não é o não-ser."
- Essa demarcação é uma possível chave de leitura para o livro de César Aira, Parménides.
- O livro de Aira, da mesma forma que Bartleby & companhia, de Vila-Matas, é uma reflexão sobre a potência do Não e da negatividade na escritura, ou ainda, seu duplo, o silêncio.
- Já dizia Kafka: pior que o canto da sereia é seu silêncio.
- A ficção torna-se um relatório da impossibilidade de dizer. O narrador de Aira, um escritor profissional contratado por Parmenides, nos conta como essa relação com o filósofo alongou-se por anos sem gerar qualquer obra material.
- Beckett: o único que pode não fazer é o artista, ao contrário do louco ou da criança.
- O Parmênides de Paz é diferente do Parmênides de Aira, creio eu. Afinal de contas, Paz é aquele guardião bem fornido do saber que o real-visceralista persegue em um parque público, enquanto o professor faz seu exercício matinal, andando em círculos (isso está nos Detetives selvagens).
- Em que ponto o surrealismo reivindicado por Paz começou a dar em nada? Onde exatamente a an-arquia (sem arquivo, fora do arquivo, da instituição, da lei) foi assimilada?
- Que anacronismo bonito faz Aira em Parménides: o local inusitado, no tempo e no espaço, é como um fiapo de carne entre os dentes depois de um almoço farto, principalmente por conta dos diálogos e das questões que ele levanta, tão contemporâneos.
- Mas é isso, no fim das contas: sobreposição de temporalidades, com-tempos, gerar faísca criativa com o contato bizarro das togas gregas com a negatividade pós-estruturalista.
*
Isso me recorda as aulas de Poética do professor Antelo!
ResponderExcluir