quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Estabilizar a ficção

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Lacan fala que, em determinado momento, a ficção se estabiliza - a ficção, aqui, é a patologia, o delírio de mundo que cada um cria para si, os mecanismos pessoais de organização da neurose, do desconforto. A ficção não pode não se estabilizar - ela é uma palavra depois da outra. Mas é evidente que há uma angústia inerente ao posicionamento fixo, uma coceira. A ficção sempre é situada historicamente, mas a leitura a faz deslizar: Pierre Menard lendo o Quixote, Borges lendo Pierre Menard, Pauls lendo Borges lendo Pierre Menard lendo o Quixote. Há certas ficções que sabem desse imperativo da estabilização e fazem dessa ordem (desse nome do Pai) uma ferramenta, um procedimento de potencialização estética. Um túmulo para Boris Davidovitch - a cartografia múltipla, os pontos de fixação sempre em movimento dão conta da violência do período histórico e do imperativo ficcional. La literatura nazi en América - a agonia da ficção (da movimentação literária, da legibilidade literária): entre a necessidade de estabelecer um sentido e continuar circulando. Há dissonância onde o manual afirma ter coesão. Historia abreviada da literatura portátil. Vodu urbano. São ficções do inventário.

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