segunda-feira, 1 de março de 2010

Língua & etc.

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Lendo um livro de Antonio Tabucchi, escritor italiano contemporâneo de novelas concisas e contos auto-reflexivos excelentes, revi completamente aquilo que tinha em mente acerca das relações entre língua e exílio, desterritorialização, afetividade idiomática e estranhamento ficcional auto-imposto. O livro se chama Requiem.
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Quando penso em língua e exílio, penso em violência, em corte abrupto: Nabokov progressivamente abandonando o russo depois de sair da Rússia; Kafka e seu vocabulário restrito em alemão - e chegamos também no tema da contingência e expressão, que eu continuamente piso e repiso por aqui e por outros lugares -; Saer e Cortázar insistindo no espanhol em plena França (o que leva a outro viés, também interessante); Beckett, Walser, Néstor Perlongher, Junot Díaz e sua sublime monstruosidade linguistica, etc.
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Tabucchi, contudo, agrega afeto a essa equação: escreve uma novela que se passa em Lisboa, sobre um italiano que, após encontrar uma porção de fantasmas, termina o dia tomando um trago com Fernando Pessoa, que some no píer assim que ele vira as costas. Tabucchi, especialista em Fernando Pessoa e professor de literatura portuguesa, escreve Requiem em português.
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Um exercício simultaneamente audacioso e cândido em direção à diferença - abandona o familiar para melhor perseguir uma obsessão. Em determinado momento, por conta de uma frase torta do narrador, Pessoa pergunta se lhe faz mal; Tabucchi responde que sim, ainda que tenha se ocupado a vida inteira de sua obra - que lhe deixa intranquilo, desassossegado: "o seu desassossego, aliado ao meu desassossego, me dá angústia", escreve Tabucchi. E mesmo assim ele persegue o fantasma, na própria língua do fantasma. É como um ritual xamanístico: uso as palavras certas e o espectro aparece.
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