quinta-feira, 4 de março de 2010

Bolaño, Saer & Lalo Cura

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Lalo Cura, conto de Bolaño e participação especial em 2666, é um chiste: porque o pai era padre, cura, seu nome é a loucura. Os padres e a igreja são um capítulo a parte em Bolaño: é só lembrar o padre que deu aula de marxismo a Pinochet, no Noturno do Chile.
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Na conferência sobre literatura e doença, Bolaño afirma que a América Latina é o manicômio da Europa - ideia jocosa (e política) que é desenvolvida em La literatura nazi en América. A América Latina, como uma espécie de laboratório, absorve o influxo dos homens mais infames. Outra antropofagia é possível.
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Como não pensar em As nuvens, de Saer, no qual um contingente absurdo de loucos cruza o pampa, em uma aventura igualmente absurda debaixo do sol. O aporte histórico de Saer, sempre rigoroso e hipnótico (vide O enteado), é uma cortina de fumaça que nos impede de ver com clareza, mas está lá, como em Bolaño: a América Latina como manicômio da Europa. A marcha do progresso, a marcha dos loucos, o vento da história.
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3 comentários:

  1. Bom demais isso aqui, K.
    Já que o Lalo Cura foi mencionado, tô esperando um post sobre pornografia ("aquela forma de arte degradada", cf. Roth) em Bolaño. Quando Lalo Cura reapareceu em 2666 tomei um susto. Parecia outro personagem.

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  2. Gheorghescu (uma dentre as tantas personagens dantescamente memoráveis de "A Sinagoga dos iconoclastas") me parece encarnar de forma paradigmática a ideia da América como manicômio da Europa (aliás, que imagem! nunca tinha ouvido falar):

    "Leituras levianas e um excesso de fé induziram o pastor evangélico Gheorghescu a conservar no sal uma quantidade insólita de negros de todas as idades: calcula-se que nas largas e profundas banheiras de sua fazenda O Paraíso, limítrofe com a salina abandonada de Ambão, nos arredores de Belém, estado do Pará, tenham sido encontrados cadáveres em vários estados de putrefação,
    mas todos orientados na direção (presumida) de Jerusalém, na Palestina, cada um trazendo entre os dentes um arenque salgado como o defunto. [...]"

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