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O Leviatã, monstro mítico que habita as profundezas do mundo, é constituído pelo corpo de todos os pecadores. Nada mais apropriado para ser utilizado como metáfora da sociedade. Sobre o Leviatã é possível dizer, também, que se trata de uma forma degradada (ou deslocada) de um ente que, outrora, teve uma função divina. Parte da tradição escatológica (skatos como último, não como excremento - estudo do fim, portanto, e não estudo da merda) afirma que, quando a História estiver concluída, os justos irão se reunir para um banquete. Os salvos comerão a carne do Leviatã.
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Com a conclusão da História, o Leviatã perde sua função e é devorado. Aquilo que é constituído pela pior parte da sociedade que representa será absorvido pela melhor parte, os justos e salvos, para que o ciclo possa recomeçar. O corpo incorruptível do homem pós-histórico será manchado pela carne podre de todos os pecadores. O banquete da salvação será um ritual antropofágico - um frenesi fora do tempo, como aquele em O enteado, de Saer. O homem, transformado em anjo, cairá assim que provar da carne do Leviatã. A lembrança dessa ascensão breve será somente uma angústia calada, minutos antes de acordar.
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