Se nas obras de Sebald fica claro o esforço da caminhada (tanto literal quanto metafórica), nas obras de Cornell a forma da caixa por vezes dá a impressão de fixidez; da mesma forma, se as obras de Cornell dão a forte ideia de precisão, cuidado, detalhismo, aquelas de Sebald muitas vezes oferecem a ilusão de certo improviso ou mesmo aleatoriedade. Corolário: a comparação favorece a ambos, ressaltando o que há de movimento em Cornell (a coleta de materiais) e o que há de precisão em Sebald (o diálogo complexo entre texto e imagem, a oscilação meticulosa entre temporalidades).
1) boa parte do trabalho de ambos é perambular, caminhar, deambular - Sebald inclusive aparece como caminhante na capa da edição alemã de Os anéis de Saturno (além de utilizar intensamente Robert Walser em tal condição); Cornell o fazia buscando materiais nos sebos, brechós e lojas de antiguidade em Manhattan;
2) ambos fazem uso constante das figuras dos animais, especialmente animais noturnos - concebidos como seres quase mágicos, que funcionam como intermediários entre o hoje e o amanhã, o dia e a noite, os vivos e os mortos (Cornell com a caixa da coruja de 1946; Sebald com a célebre abertura de Austerlitz no Nocturama, com os olhos de Wittgenstein e os olhos dos animais noturnos);
3) ambos fazem referência à interferência dos astros e das estrelas na vida humana, na vida terrena - no caso de Sebald, a vida "sob o signo de Saturno" que anuncia já em Nach der Natur, e que expande nas reflexões sobre a selenografia, também em Austerlitz; em Cornell, o uso de uma "carta geográfica da lua" em uma caixa de 1936, Soap Bubble Set, ou uma colagem feita 30 anos depois, intitulada Cassiopeia.
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