sexta-feira, 15 de maio de 2020

Cornell, 1966


Com o surgimento midiático de Susan Sontag no início da década de 1960, um leitor ilustre buscou - pouco a pouco - uma aproximação: Joseph Cornell começa a enviar à escritora uma série de pequenos presentes, objetos, fotografias, montagens, além de incorporar a imagem de Sontag ao seu próprio universo criativo, como a colagem The Ellipsian, de 1966 (a fotografia foi retirada da quarta capa de O benfeitor, o primeiro romance de Susan Sontag, lançado em 1963):

Em um documentário de 1991, Joseph Cornell: Worlds in a Box, Sontag comenta sua relação com Cornell (trinta anos mais velho e que faleceria em 1972), que ela chama de "um dos grandes artistas deste século", e a relação deste com a fotografia e com a aura romântica dos artistas retratados (o que teria chamado de imediato a atenção de Cornell, relata Sontag, é o fato dela compartilhar o sobrenome com uma soprano muito famosa no século XIX, Henriette Sontag, que morreu vítima do cólera no México, durante uma turnê mundial, em 1854). Henriette aparece em The Uncertainty Principle (Portrait of Henrietta Sontag):

Diante da quantidade de presentes enviados, Susan Sontag escreve a Cornell; ele responde com um convite para uma visita a sua casa - no mesmo documentário citado acima, Sontag diz que decide levar seu filho David junto na visita, por não ter certeza das intenções de Cornell (medo infundado, ela diz, porque Cornell guardava em si "algo de criança", "assexual", "ingênuo"). A biógrafa de Cornell, Deborah Solomon (Utopia Parkway: The Life and Work of Joseph Cornell), escreve que, "além de tomar chá na cozinha", Sontag recebeu privilégios de acesso: ela é levada por Cornell ao porão de sua casa, onde ele guarda sua coleção de livros antigos e gravuras, além de receber duas de suas caixas (resgatadas por um assistente algum tempo depois, para espanto de Sontag).


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