Cornell, Nymphlight, 1957 |
Outro ponto fundamental de contato entre Sebald e Cornell é o uso da imagem da borboleta (da mariposa, da ninfa) como imagem da memória e da nostalgia (nesse sentido, é um elemento que serve para aproximar ambos também de Nabokov, a quem Sebald declaradamente admira - tendo dedicado um ensaio a ele em Campo Santo e utilizado o autor de Fogo pálido como personagem fundamental de Os emigrantes - e a quem Cornell está ligado por um esforço compartilhado de resgate da infância através de uma poética que mescla elementos de realismo e de fantástico). A borboleta dá a ilusão de leveza a um fardo da memória que não só é pesado, como pode frequentemente tocar o obsessivo - como certamente é o caso em Sebald e Cornell (o peso desse fardo ganha representação visual no ambiente de trabalho de Jacques Austerlitz, por exemplo).
Em 1940, Cornell dedica uma obra à bailarina Lucille Grahn, ligando-a à figura da sílfide, ser mítico do ar. Ao longo de toda sua carreira, Cornell realizou uma série de breves filmes caseiros - em 1957 ele produz um sugestivamente intitulado Nymphlight, que usa o Bryant Park e a New York Public Library como cenários (e que de maneira bem nabokoviana usa como atriz uma menina de 12 anos, a bailarina Gwen Thomas).
Cornell e Sebald compartilham esse espaço aéreo que mescla temporalidades, que dá acesso a uma sorte de registro intermediário da realidade - borboletas, estrelas, pássaros em geral. No começo de Os anéis de Saturno, durante a visita a Somerleyton, o narrador de Sebald encontra uma codorna chinesa trancada, que não voa e que só pode se mover lateralmente; no final do romance, falando da fabricação da seda em Norwich, Dublin e Berlim, Sebald posiciona uma belíssima imagem de mariposas (o quadro 29 do Musaeum Clausum de Thomas Browne, publicado postumamente em 1684).
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