Michon e Foucault se encontram em Vasari - Foucault em "O 'não' do pai", que para chegar na biografia que Laplanche faz de Hölderlin faz um desvio nas vidas de Vasari; e Michon em Senhores e criados, que se apropria da vida de Piero della Francesca tal como contada por Vasari. Mas os caminhos que levam Foucault e Michon a Vasari são diversos. No caso de Michon, é provável que sua chegada em Vasari tenha se dado por intermédio de Marcel Schwob - já que as Vidas minúsculas de Michon são as Vidas imaginárias de Schwob noventa anos depois.
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O tratamento de Vasari, porém, é completamente distinto: Schwob, como sabemos, retoma Paolo Uccello a partir do texto de Vasari, retoma e remonta, corta pedaços da vida de Uccello e vai costurando a partir do método de suas Vidas imaginárias, ou seja, evidenciando os detalhes mais luminosos, aqueles que já a partir da primeira leitura perduram, recriam a própria atenção dispensada a eles; em Michon, em Senhores e criados, Piero della Francesca é uma sombra distante que de quando em quando toca a história com a franja de seus limites. Semelhante àquilo que Tom Stoppard faz em Rosencrantz & Guildenstern Are Dead, retomada do Hamlet de Shakespeare na qual Hamlet funciona como a sombra distante, Michon refaz a vida desse pintor menor, Lorentino d'Angelo, discípulo de Piero, vivo em uma breve linha de Vasari - que Michon expande e faz proliferar.
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