1) Depois da Revolução, Chklóvski se exilou em Berlim - assim como Nabokov, mas ao contrário deste, que nunca mais voltou, Chklóvski pediu para voltar já na década de 1920. Nesse exílio, Chklóvski escreve Zoo, ou cartas não de amor, um romance epistolar baseado nas cartas que ele de fato escreveu a Elsa Triolet (que mais tarde foi para Paris e casou com Louis Aragon). As afinidades estabelecidas do passado se mesclam aos afetos imprevistos do presente - Moscou com Berlim, as releituras dos livros com a leitura das cartas de "Alya", que, ao proibir o narrador de lhe escrever sobre amor, faz com que ele elabore um procedimento de comentário crítico que possa, no mesmo gesto, esconder e revelar esse amor (e assim como o conto de Berlim, o romance de Chklóvski é também um guia da cidade, que o narrador percorre buscando - e não encontrando - a cidade natal e a mulher que ama).
2) Esse procedimento absorve a própria lógica da linguagem totalitária, que requer e requisita, por sua vez, uma espécie de leitura paranoica das entrelinhas. Ricardo Piglia, teimoso leitor dos formalistas, encena o mesmo impasse de Chklóvski e Alya em Respiração artificial - as cartas de Enrique Ossorio, que dizem aquilo que não podem dizer, sempre indiretamente, sempre na oscilação paranoica da leitura do censor, que faz das cartas uma sorte de Cabala do Estado, separando termos, confrontando, dissecando, traduzindo expressões de tempos e geografias inacessíveis (que se mesclam ao contexto do censor, assim como em Zoo, de Chklóvski).
3) Zoo permite a junção de dois campos de trabalho delineados por Roland Barthes: em primeiro lugar, a proposição da língua fascista, que não impede, e sim obriga a dizer; em segundo lugar, a retórica do discurso amoroso. Fragmentos de um discurso amoroso, de 1977, apresenta semelhanças estruturais com o romance epistolar de Chklóvski, semelhanças que podem ser resumidas a partir das palavras-chave que Barthes escolhe para definir seu projeto já na introdução: Figuras, Ordem e Referências, ou seja, imagens do passado (Figuras) postas em uma configuração artificial (Ordem) e revitalizadas a partir de um desvio, a partir de um procedimento de revelação/velamento (Referências). O esforço de Barthes é o de alcançar o "discurso amoroso" a partir da decantação do código que diferencia tal discurso (e nesse processo faz a decantação também de seu próprio instrumental crítico); o esforço de Chklóvski é o de alcançar uma espécie de ponto intermediário entre a autobiografia, o comentário e a denúncia política, tomando como ponto de partida uma interdição prévia do acesso ao "discurso amoroso".
2) Esse procedimento absorve a própria lógica da linguagem totalitária, que requer e requisita, por sua vez, uma espécie de leitura paranoica das entrelinhas. Ricardo Piglia, teimoso leitor dos formalistas, encena o mesmo impasse de Chklóvski e Alya em Respiração artificial - as cartas de Enrique Ossorio, que dizem aquilo que não podem dizer, sempre indiretamente, sempre na oscilação paranoica da leitura do censor, que faz das cartas uma sorte de Cabala do Estado, separando termos, confrontando, dissecando, traduzindo expressões de tempos e geografias inacessíveis (que se mesclam ao contexto do censor, assim como em Zoo, de Chklóvski).
3) Zoo permite a junção de dois campos de trabalho delineados por Roland Barthes: em primeiro lugar, a proposição da língua fascista, que não impede, e sim obriga a dizer; em segundo lugar, a retórica do discurso amoroso. Fragmentos de um discurso amoroso, de 1977, apresenta semelhanças estruturais com o romance epistolar de Chklóvski, semelhanças que podem ser resumidas a partir das palavras-chave que Barthes escolhe para definir seu projeto já na introdução: Figuras, Ordem e Referências, ou seja, imagens do passado (Figuras) postas em uma configuração artificial (Ordem) e revitalizadas a partir de um desvio, a partir de um procedimento de revelação/velamento (Referências). O esforço de Barthes é o de alcançar o "discurso amoroso" a partir da decantação do código que diferencia tal discurso (e nesse processo faz a decantação também de seu próprio instrumental crítico); o esforço de Chklóvski é o de alcançar uma espécie de ponto intermediário entre a autobiografia, o comentário e a denúncia política, tomando como ponto de partida uma interdição prévia do acesso ao "discurso amoroso".
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