sábado, 18 de maio de 2013

Sontag e seus diários, 3

1) Em "O antropólogo como heroi", seu ensaio sobre Lévi-Strauss, Susan Sontag não apenas faz ecoar motivos de seus diários - como a passagem sobre a vontade automutiladora de Freud - como também enfatiza o caráter "confessional" de Tristes trópicos, um dos livros de Lévi-Strauss que ela comenta. Sontag cita a conhecida frase de Lévi-Strauss: "raras vezes dedico-me a enfrentar um problema de sociologia ou de etnologia sem previamente revigorar minha reflexão com algumas páginas do 18 de brumário de Luís Bonaparte ou da Crítica da economia política". (tradução Rosa Freire d'Aguiar, Cia das Letras, 1996, p. 55). Em seu ensaio, Sontag busca uma proximidade com Lévi-Strauss a partir da exposição de suas predileções e, principalmente, o fato de que tais predileções são apresentadas em momentos de sua escritura que de certa forma "traem" a escritura técnica do antropólogo.
2) Tal como no diário: a tensão entre a vivência, a reflexão e o aprendizado, no interior de uma linguagem tensionada, por sua vez, no limite do abandono (ou seja, ali onde ela se mostra apenas o suficiente para reportar). É importante notar que, no parágrafo anterior ao da frase citada por Sontag, Lévi-Strauss fala de Freud, da psicanálise e da relação de seu método com aquele da geologia. E a frase sobre Marx continua da seguinte forma: "Não se trata de saber se Marx previu com acerto este ou aquele desdobramento da história. Seguindo-se a Rousseau, Marx ensinou que a ciência social constrói-se tão pouco no plano dos acontecimentos quanto a física a partir dos dados da sensibilidade: a meta é construir um modelo, estudar suas propriedades e suas diferentes formas de reação no laboratório, para em seguida aplicar essas observações à interpretação do que ocorre empiricamente e que pode estar muito distante das previsões".
3) Tristes trópicos, escreve Sontag em seu ensaio, "é um livro intensamente pessoal, como Ensaios de Montaigne e Interpretação dos sonhos de Freud, é uma autobiografia intelectual, uma história pessoal exemplar na qual é elaborada toda uma visão de condição humana, toda uma sensibilidade". E duas páginas adiante: "a antropologia, para Lévi-Strauss, é um tipo de disciplina intelectual intensamente pessoal como a psicanálise". As camadas geológicas da escritura e da vida de Sontag partem de um casamento desfeito e alcançam um livro conjunto sobre Freud, e daí para Lévi-Strauss e, dentro deste, os elementos que indicam as camadas geológicas do antropólogo e da antropologia como disciplina - e aí retorna Freud, que já estava desde o princípio e que certamente auxiliou a identificação de Sontag com Lévi-Strauss, mas também Marx e Rousseau.    

4 comentários:

  1. Se não lhe for incômodo, cê poderia indicar-me alguns escritores de gênero thriller/suspense?

    Lembro-me que uma vez, se não me engano, você mencionou Lehane, então pensei que talvez você pudesse saber.

    Sei que não é o melhor espaço para o pedido... então tudo bem se excluir este recado.

    Gracias.

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    1. Incômodo nenhum, Johanna.
      Lehane sem dúvida é um excelente nome - gosto também da Fred Vargas, Luiz Alfredo Garcia-Roza, Lawrence Block. Faz tempo que não me dedico a esse gênero, mas do que eu li esses são alguns dos meus preferidos.

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    2. Não conheço nenhum dos três, pois veja. Irei lê-los. Muito obrigada, Kelvin! :)

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    3. Já leste algo de Benjamin Black?

      Não tem nenhum marcador, aqui, com John Banville, acho. Não curtes?


      []

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