1) A citação de Coetzee em Diário de um ano ruim leva a Descartes - larvatus prodeo, mascarado, dissimulado eu avanço (em direção ao futuro mas também em direção ao passado, principalmente ao passado, pois Descartes escreve essas palavras quando muito jovem, quando busca sua progressão diante de um cenário tradicional, estabelecido). A imagem acima, curiosamente, não é um comentário ou uma "representação artística" dessas palavras. Tem um objetivo bem mais direto: provar que um crânio encontrado em um museu depois de uma enchente era, de fato, o crânio de Descartes.
2) Em 1821, o crânio de Descartes foi descoberto por um francês na Suécia e levado a Paris, onde permaneceu no Museu de História Natural. Em janeiro de 1910, a cidade sofre com uma enchente, que atinge também o museu: todo tipo de relíquia flutua indistintamente pelos salões. Onde está o crânio de Descartes? Com o recuo das águas, aparece uma caveira, sem qualquer tipo de identificação. Paul Richer, assistente do célebre médico Charcot, especialista em arte e anatomia (quantas vezes não deve ter cruzado com Freud pelos corredores), surge com uma ideia: a partir do retrato de Descartes pintado por Frans Hals, ele faz uma projeção da ossatura do filósofo e constrói sua escultura em camadas. O plano dá certo e a autenticidade é confirmada (numa apresentação com ampla cobertura da mídia, em janeiro de 1913). A escultura de Richer transforma o rosto de Descartes em máscara, em prótese, em jogo de dissimulação - tal como ele queria, larvatus prodeo, mas muito longe daquilo que buscava Richer.
Frans Hals, retrato de Descartes, 1649 |
Crânio de Thomas Browne |
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