1) Quem lê Faulkner em Elizabeth Costello?
Qual John lê Faulkner em Elizabeth Costello?
São duas vozes que compartilham o mesmo nome, John, um movimento certamente deliberado. John Coetzee ou John Costello, qual deles é o leitor de Faulkner? ("John Costello" é uma forma-didática, porque Costello é o nome de solteira de Elizabeth e seu filho provavelmente não o utiliza).
2) "Ele não odeia a mãe", alguém pensa, diz ou escreve em Elizabeth Costello. "Ao pensar nessas palavras", esse alguém continua entre parênteses, "outras palavras ressoam em sua cabeça: as palavras de um dos personagens de William Faulkner insistindo de maneira loucamente repetitiva que não odeia o Sul. Quem é esse personagem?", fim da digressão. Quem tem esse acesso direto à mente do filho de Elizabeth Costello? Será o próprio filho ou essa voz externa que sempre diz coisas como "Vamos pular para frente" ou "Pulamos para a frente de novo, desta vez no texto, não na performance"?.
3) Impossível dizer, e aí está a arte de Coetzee. Porque os parênteses reforçam a ideia da externalidade da voz e do comentário, embora os sentimentos estejam ligados ao filho (o ódio, o amor). Mas o narrador já disse que John Costello é professor de física e que só depois dos trinta anos de idade decidiu ler os romances escritos pela mãe. Não parece exato ligar a esse personagem (a essa consciência, a essa entidade delimitada pelo percurso do primeiro capítulo de Elizabeth Costello) uma leitura tão insistente de Faulkner - e mais ainda: ter o distanciamento necessário para ligar essa minúcia de Faulkner a uma iluminação tão importante para sua vida (odiar ou não odiar a mãe?). "Quem é esse personagem?": quem se preocuparia com isso em um momento desses (somente um doente de literatura, como Montano, como John Coetzee).
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