Zenão de Eleia, 490-430 a.C |
1) O conto de Leskov sobre a pedra preciosa - a alexandrita - termina com a resolução do suspense. Assim como acontece com a história de Chuang-Tsê, que desenha o caranguejo mais belo de todos os tempos com apenas um movimento (depois de dez anos de espera), o velho Wenzel faz a lapidação da pedra em pouco tempo, depois de deixá-la de lado, dentro de um pires com pedras ordinárias e sem valor, por dias. A resolução abrupta de um relato que se arrasta - como se a flecha de Zenão finalmente chegasse ao alvo.
2) Ricardo Piglia comenta a fábula de Chuang-Tsê em um dos textos de Formas breves, "Novas teses sobre o conto". Utilizamos a mesma fonte: as propostas de Italo Calvino. Piglia também fala de Borges, afirmando que as teses decorrem diretamente da leitura de seus contos. Piglia, ao relacionar Chuang-Tsê e Borges, está pensando no final do conto, em sua resolução - pois é a liberdade da ficção com relação ao final (da vida, da experiência, do relato) que a liberta do real, do realismo e da representação.
3) Piglia toma a liberdade de imaginar como Borges contaria a fábula de Chuang-Tsê se tal relato fosse um de seus contos (faz o mesmo exercício com Kafka e Hemingway). E Piglia, ao falar de Kafka, dá ênfase justamente ao aspecto angustiante, maníaco e paranoico de sua ficção - para o Kafka imaginado por Piglia, Chuang-Tsê vive toda a sua vida atormentado por um tarefa que considera impossível de ser cumprida (o desenho). Mas Piglia não menciona o texto de Borges sobre Kafka e seus precursores - o ensaio que fala de Zenão e da flecha, que funda uma linhagem que entende o final como impossibilidade e pesadelo (ao contrário daquela de Chuang-Tsê e Leskov, que entende o final como revelação e recomeço).
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