"Como posso gostar tanto de Proust quanto de Homero se não encontro a mim mesmo nessa leitura? Por isso em literatura funciona mais 'o mesmo' do que 'o outro'", diz Juan José Saer numa entrevista com Graciela Speranza (Primera persona, Buenos Aires: Norma, 1995, p. 154). Essa busca por si mesmo na leitura é algo intensamente trabalhado por David Markson em sua poética - esse ponto paradoxal que liga o abandono da identidade e da subjetividade (as citações, a ausência de trama) e o retorno enviesado desses mesmos elementos (porque vai aos poucos se formando a imagem dessa "consciência" que promoveu todas essas escolhas, essa montagem de citações).
One should always read with a pen in one's hand.
Says Delacroix in the Journals. (p. 79).
Como nomear essa "consciência" que vai se formando por trás das citações? Trata-se de uma entidade textual que nunca ganha contornos definidos, vai apenas se insinuando pouco a pouco nos exemplos, nas breves anedotas da montagem (se Paul de Man questiona a própria possibilidade do autobiográfico como gênero a partir da pergunta: "A autobiografia pode ser escrita em verso?", respondendo, com Wordsworth, que sim, Markson mostra que a escrita autobiográfica sequer precisa dizer "eu" (ou "ele", que é a escolha de Coetzee em Verão, por exemplo). Na passagem citada acima, essa entidade textual ganha os contornos desse ideal de leitor imaginado por Delacroix - e certamente aprovado por Markson: aquele que lê escrevendo, se apropriando do corpo do texto alheio.
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