Joseph Cornell em sua casa no Queens |
Algo da atmosfera da poética de Markson lembra Charles Simic - não só as citações, mas esse contato ao mesmo tempo melancólico e resignado com a tradição, com laivos sutis de ironia e enfado (j'ai lu tous les livres, etc). E se lembra Simic, certamente lembrará Joseph Cornell (Simic sobre Cornell, aqui), todos reunidos sob a atmosfera da mesma cidade:
Joseph Cornell lived in the same house in Queens for fifty-four years. (p. 97)
Mas a menção a Cornell é também a chance de Markson fazer aquilo que faz tão bem - o contraponto, o salto vertiginoso de uma coisa a outra (o salto geográfico e temporal que se torna doméstico na passagem de uma ficha a outra, pois era assim que ele organizava os livros antes de "escrevê-los", uma ficha atrás da outra, dispostas em sequência em uma tampa de caixa de sapatos), e imediatamente depois de Cornell ele cita Descartes:
Descartes, in Holland, had twenty-four different addresses in twenty.
O que evoca, por sua vez, aquela velha discussão sobre os vários endereços de Baudelaire em Paris, fato comentado por Walter Benjamin na chave da deambulação urbana e da flânerie poética, das ruas misteriosas, do mapa da cidade como local do crime, do homem da multidão, etc.
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