domingo, 18 de maio de 2014

Vanishing Point, 1

Quando se vai chegando ao final do livro, fica claro que o vanishing point é esse momento de desaparição da autoria no caos da leitura, no caos das referências, mas uma desaparição metafórica que se confunde com a desaparição material do escritor, do Autor - que é o termo que Markson utiliza ao longo do livro ao se referir a si mesmo (como usa Reader em Reader's Block, por exemplo; ou Writer em This is not a novel). Em alguns momentos ao longo do livro essa desaparição é ensaiada já na incorporação de fragmentos alheios, apresentados sem a mediação da voz do Autor, como no verso de Mallarmé, que permanece anônimo:
La chair est triste, hélas! et j'ai lu tous les livres. (p. 114)
Há muito a dizer sobre a emergência desse tema blanchotiano na poética de Markson, o tema do desaparecimento - como faremos para desaparecer?, de O livro por vir, que Vila-Matas usa como epígrafe de O mal de Montano (que funciona como uma espécie de etapa anterior ao gesto de "exaustão autoral" de Markson em sua quadrilogia). Porque, de certo modo, o vanishing point é precisamente a tradução tanto desse como faremos para desaparecer? como desse livro por vir, que se anuncia quando Foucault pergunta, através da presença velada de Beckett, o que importa quem fala?.  

2 comentários:

  1. Olá.
    Diante de tanta coisa (talvez informação, talvez jorro, talvez discussão acerca de, talvez devaneio, talvez abismo - e por isso coisa, por não ter certeza) com Vila-Matas, Walser, Beckett entre outros, devo, com toda presença do mundo, dizer que estou em choque, em conflito e com uma curiosidade tremenda pelos campos literários que o senhor, professor, permeia. Não que eu conheça muito sobre tudo isso, mas minhas buscas online me deixaram aqui. Eu não sei realmente o que queria dizer no início, bem antes, quando parei pra ler muita coisa do teu blog. Queria um contato. Encontrei meu objeto de estudo para pós-graduação esmiuçado e isso me deixou no ápice da fruição. É tudo muito bonito, realmente. Tudo muito dentro-da-gente. Enfim, professor, não encontrei teu email pra lhe enviar isso, então resolvi deixar por aqui.
    Agradeço.

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  2. Eu que agradeço o contato, tão franco e generoso. Fico feliz que lhe tenha ajudado de alguma forma. Não hesite em escrever sempre que quiser.

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