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Em breve, História abreviada da literatura portátil, o melhor livro de Enrique Vila-Matas, estará disponível em tradução no Brasil. Com ele, virá Raymond Roussel, embutido nas páginas, figura central para a construção do delírio de Vila-Matas. A História abreviada remete às Impressões da África, de Roussel, e especialmente ao fato de Roussel nunca ter pisado na África - seu livro é um acúmulo jocoso de entulhos das mais variadas fontes: trocadilhos libidinosos, manuais de bricolagem, catálogos comerciais, novelas orientalistas do século XIX, novelas de aventuras, etc. O navio do livro de Roussel aportou ali onde V-M posiciona Duchamp e outros, em plena África, em pleno nascimento da conjura portátil. É como se Roussel rasgasse as retinas de Duchamp e ele finalmente entendesse - tudo funcionando a partir do ritual necromântico de E. Vila-Matas (Satam Alive, ao contrário). As Impressões de Roussel são o modelo porque são portáteis - fruto de uma viagem de mentira, do aglomerado de informações des-hierarquizadas que qualquer francês médio teria acesso na época. Análogo ao projeto das passagens de Benjamin (também membro da conjura que arma Satam). Roussel era milionário e, consequentemente, um colecionador. Atrás de seu dinheiro, as pessoas se revelavam a ele. Reuniu todos, objetos e indivíduos ridículos, em um navio (cujo destino final era, curiosamente, a Argentina), e tomou providências no sentido de isolá-los no local mais estranho possível. Banqueiros, dançarinas, reis africanos, canibais e palhaços de circo compartilham o mesmo espaço em Impressões, um espaço que poderia muito bem ser o Inferno, como se O coração das trevas tivesse sido reescrito na linguagem profética e esquizofrênica do Apocalipse de João.
Há 35 minutos
Oi, achei por acaso seu blog e fiquei fascinada pela idéia desse livro do Vila-Matas. Quando chegará ao Brasil? Por qual editora? Obrigada, Bárbara Piñeiro.
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