terça-feira, 20 de julho de 2010

Aprender a rezar na era da técnica

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Em uma das entrevistas que deu, César Aira diz que sua ficção é perfeita para os acadêmicos. Deixa subentendido que, pelo fato de ele próprio ter lido Deleuze e Derrida, os acadêmicos conseguem transportar seu texto para noções interpretativas como rizoma, desterritorialização, indecidibilidade, etc. O mesmo acontece com Gonçalo Tavares – que também compartilha com Aira um fascínio pela proliferação editorial como procedimento artístico. Aprender a rezar na era da técnica é um livro excelente, não tão ágil quanto Jerusalém, mas igualmente interessante naquilo que diz respeito à colocação do corpo do sujeito no centro da coerção política. Talvez Aprender a rezar seja ainda muito linear – com as cenas traumáticas de infância no início (traumas sexuais incluídos) e a morte no final. Mas é incisivo na articulação da religião e do culto com o consumo e a imagem – o posicionamento do corpo como uma tarefa constantemente imposta e reiterada (e o mundo como um campo de batalha). É também um desdobramento de A extensão do domínio da luta, a novela fantástica de Michel Houellebecq – ambos lidam com o contemporâneo a partir das imagens, a partir de uma cartografia do desejo esvaziado, informe. Aprender a rezar na era da técnica pode ser visto como uma releitura contemporânea do contato entre Walter Benjamin e Carl Schmitt, o problema da soberania e da exceção a partir de um viés kafkiano, no qual a progressão é sempre uma resposta ao Pai.
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