2) Essa visão simplista do humor é logo deixada de lado por Wood, que passa a aproximar Sebald de figuras como Kafka e Thomas Bernhard, buscando uma sorte de vivência humorística indireta, impura, atravessada pelo trágico (às vezes aparecem figuras estranhas, excêntricas, como a criada Elaine do Dr. Henry Selwyn, em Os emigrantes; ou por meio da incerteza diante da realidade, como na desorientação do narrador em sua viagem pela Itália, em Vertigem). Nesse ponto, Wood fala que Sebald explora uma espécie de "pastiche gótico", um excesso dos gestos e das sensações que dá uma impressão de irrealidade a certos pontos da narrativa (algo que as imagens, argumenta Wood, reforçam, por conta da baixa qualidade e nitidez).
3) É digno de nota que Wood inicie e finalize seu ensaio fazendo uso do encontro "face-a-face", do recurso à materialidade e ao verificável ou testemunhal: no início, Wood fala de quando jantou com Sebald em Nova York em 1997, depois de uma entrevista no PEN American Center; no final, fala de como teve a oportunidade de ir aos Arquivos Sebald em Marbach e ver de perto o cartão-postal que gerou a imagem de Jacques Austerliz quando criança. A conversa com Sebald no jantar serve para iniciar a questão da adaptação de um alemão à cultura inglesa; a visita ao arquivo, por outro lado, serve como comprovação de que a poética de Sebald leva mais à digressão ficcional do que à certeza documental (o cartão-postal foi provavelmente comprado por Sebald em um mercado de pulgas, já que ainda carrega a inscrição Stockport: 30p).
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