1) "Toda imagem que mostra a violação de um corpo é pornográfica", escreve Susan Sontag em Diante da dor dos outros. A partir disso, Sontag também está interessada em colocar sob nova luz o problema do Real: quando se trata do horror, da dor, da violência, uma urgência hermenêutica emerge das fotografias e não das representações pictóricas clássicas - pinturas e esculturas. Segundo Sontag, há um "valor ético" nas fotografias de violência que pode levar, eventualmente, à consciência "dos terrores e danos que os seres humanos cometem uns contra os outros" - algo desse resíduo ético da imagem é o que também busca Sebald, especialmente na História natural da destruição.
2) Refletindo sobre o cruzamento entre dor e erotismo - através do prazer que o ser humano encontra na observação de imagens violentas -, Sontag chega a Bataille, lembrando que ele mantinha sobre sua mesa de trabalho a foto de um suplício chinês, de 1910. Um homem, já sem os braços, pendurado por uma corda, olha para o céu com uma expressão calma, quase sorrindo. O que interessa profundamente a Bataille na foto, para a qual ele olhou, diariamente, durante muitos anos, é o caráter exacerbado desse sacrifício: diante desse chinês, estamos muito além da morte, muito além do desejo de tirar a vida - o que está em jogo é o desmembramento, a desfiguração, a desumanização festiva e exaltada de um único homem, uma destruição ontológica que distribui gozo à massa que assiste.
3) Sontag faz referência ao êxtase de São Sebastião, cujas feições de certa forma sobrevivem no chinês supliciado. A conexão é possível se pensarmos em As lágrimas de Eros, um livro que Bataille escreve já no fim da vida. Semelhante ao Museu imaginário, de Malraux, e ao Atlas, de Warburg, Bataille cria uma galeria de imagens que vão da cultura arcaica à era contemporânea - seu objetivo é ilustrar o êxtase erótico no horror extremo. Mediante uma montagem de imagens dos piores suplícios, Bataille confirma, mais uma vez, sua tese sobre a correlação íntima entre sadismo e erotismo. Folheando seu catálogo de horrores, contudo, fica claro que algo se rompeu no caminho: como se estivéssemos diante de uma desesperada tentativa de sentir algo, por menor que seja, pela última vez - como se a sensibilidade tivesse se perdido nesse reino infernal de suplícios e violências, cultivado pelo próprio Bataille anos a fio.
3) Sontag faz referência ao êxtase de São Sebastião, cujas feições de certa forma sobrevivem no chinês supliciado. A conexão é possível se pensarmos em As lágrimas de Eros, um livro que Bataille escreve já no fim da vida. Semelhante ao Museu imaginário, de Malraux, e ao Atlas, de Warburg, Bataille cria uma galeria de imagens que vão da cultura arcaica à era contemporânea - seu objetivo é ilustrar o êxtase erótico no horror extremo. Mediante uma montagem de imagens dos piores suplícios, Bataille confirma, mais uma vez, sua tese sobre a correlação íntima entre sadismo e erotismo. Folheando seu catálogo de horrores, contudo, fica claro que algo se rompeu no caminho: como se estivéssemos diante de uma desesperada tentativa de sentir algo, por menor que seja, pela última vez - como se a sensibilidade tivesse se perdido nesse reino infernal de suplícios e violências, cultivado pelo próprio Bataille anos a fio.
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