Emil procurava uma lenda. A lenda do regimento no qual muitos anos atrás seu avô havia servido, heroi e vítima do campo de batalha de Solferino. Solferino: significa derrota, morte, noite negra prenhe de um senso de catástrofe, saturada do lamento dos feridos, cortejos de espectros que se arrastam através do campo de batalha. Solferino - a soma de todas essas imagens em um Requiem musical. E isso não é vazio de significado. Quer dizer o fim, o extermínio, e ao mesmo tempo a pacificação.
Andrzej Kusniewicz. Il Re delle due Sicilie
[O rei das duas Sicílias].
Palermo, Sellerio, 1992, p. 81.
[O rei das duas Sicílias].
Palermo, Sellerio, 1992, p. 81.
1) Kusniewicz nasceu na Galícia oriental, em 1904, estudou Direito e Ciências Políticas em Cracóvia e trabalhou durante muitos anos no serviço diplomático. Participou da Resistência francesa durante a II Guerra Mundial. Segundo Sergio Pitol, O rei das duas Sicílias é sua obra-prima: uma narrativa que transmite um pouco do caos do primeiro mês da I Guerra Mundial, a confusão de tropas e soldados do império austro-húngaro reunidos sob as ordens dadas nas três línguas oficiais da nação - alemão, húngaro e croata.
2) Alguns soldados estão incrédulos, outros confiantes - durará apenas umas poucas semanas, diz um deles, ninguém suportaria tanto horror. Emil, o jovem oficial analisado pelo narrador, conhece a guerra apenas pelos quadros que decoram a praça d'armas do quartel. O narrador, por outro lado, parece ter uma profunda e amarga consciência dos horrores da guerra - e esse descompasso é frequentemente explorado, especialmente nas cenas em que Emil procura justificar seu desejo pela guerra. Suas imagens de grandeza e nobreza são sempre canhestras, deslocadas, ingênuas.
3) O Emil de Kusniewicz é uma espécie de companheiro de Joachim von Pasenow, o romântico perdido no violento e desencantado mundo da trilogia de Hermann Broch (Pasenow ou o romantismo; Esch ou a anarquia; Huguenau ou a objetividade). Kusniewicz, porém, não mostra a derrocada de Emil - só podemos imaginar a extensão de seu trauma diante do real da guerra, caso tenha sobrevivido. E também só podemos imaginar a extensão de seu silêncio, que substitiu o alemão, o croata e o húngaro como língua oficial de um império reduzido a pó.
2) Alguns soldados estão incrédulos, outros confiantes - durará apenas umas poucas semanas, diz um deles, ninguém suportaria tanto horror. Emil, o jovem oficial analisado pelo narrador, conhece a guerra apenas pelos quadros que decoram a praça d'armas do quartel. O narrador, por outro lado, parece ter uma profunda e amarga consciência dos horrores da guerra - e esse descompasso é frequentemente explorado, especialmente nas cenas em que Emil procura justificar seu desejo pela guerra. Suas imagens de grandeza e nobreza são sempre canhestras, deslocadas, ingênuas.
3) O Emil de Kusniewicz é uma espécie de companheiro de Joachim von Pasenow, o romântico perdido no violento e desencantado mundo da trilogia de Hermann Broch (Pasenow ou o romantismo; Esch ou a anarquia; Huguenau ou a objetividade). Kusniewicz, porém, não mostra a derrocada de Emil - só podemos imaginar a extensão de seu trauma diante do real da guerra, caso tenha sobrevivido. E também só podemos imaginar a extensão de seu silêncio, que substitiu o alemão, o croata e o húngaro como língua oficial de um império reduzido a pó.
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