1) As histórias de Isaac Babel sobre a Cavalaria Vermelha são baseadas principalmente em suas experiências na frente de batalha como correspondente de guerra. As frases iniciais de muitos dos contos ainda guardam essa urgência do fato, da documentação, do envio - era preciso reportar aquilo que se via. A concisão documental, no entanto, frequentemente se mistura às imagens de violência - e é na modulação desses diferentes registros que achamos o gênio de Babel. "O Comandante da 6ª Divisão informou: Novgorad-Volynsk foi tomada hoje ao amanhecer". Assim começa "A travessia do Zbrutch" - cujo tom, já no segundo parágrafo, começa a mudar, em direção a um assombro diante das atrocidades que se acumulam. O cheiro do sangue, a matança dos cavalos, a cabeça arrancada de um judeu.
2) O narrador de Babel é como aquele anjo de Klee que Walter Benjamin diz ser o anjo da história - sempre impelido à frente, sempre violentado pela força do vento do progresso, que infla suas asas contra sua vontade, que faz com que ele siga sempre em frente, mas sempre olhando para as ruínas que ficam pelo caminho. O mundo se dissolve ao seu redor e tudo que ele pode fazer é reportar. Décadas mais tarde, essa será também a poética de Beckett: o texto que melhor explora essa violência do "sempre em frente" é Worstward Ho - um breve texto escrito em 1983 (que ganhou como traduções, por exemplo, Rumbo a peor e Cap au pire). The end is in the beginning and yet you go on.
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