Paul-Michel, além de distribuir murros em seus colegas, gostava muito de ler. Todos lembram com nitidez de sua incrível capacidade de trabalho. Conseguia fazer muitas coisas ao mesmo tempo, levar adiante projetos simultâneos. Lia, escrevia, lecionava. Fazia fichas de forma meticulosa e as organizava em caixas, por assunto, autor e ano. Aos cinqüenta anos, Paul-Michel afirmava ter em casa, guardadas, as fichas que fizera aos vinte anos de idade, na Escola Normal Superior. Nessa época, Paul-Michel começa a aprender alemão para poder ler Heidegger no original. É curioso, também, que suas leituras de filosofia, nessa época, são acompanhadas por leituras de psicologia, intensas na mesma medida. Paul-Michel trabalhou como psicólogo (em um hospital e também em uma prisão), quase como um técnico de psicologia, dos 26 aos 29 anos: examinava internos, detectava traumatismos cranianos, epilepsias larvais, distúrbios neurológicos, aplicava testes de Rorschach, etc. Portanto, além de Marx, Hegel, Nietzsche e Heidegger, Paul-Michel também lê Freud , Binswanger, Marie Bonaparte e Margaret Mead. Mas também consome literatura, e de forma compulsiva. Kafka, que sua geração descobre com entusiasmo e que ele lê em alemão, para se familiarizar com a língua recente. Paul-Michel é um ardoroso divulgador de Faulkner, Gide (que nem precisava tanto assim), Genet, Sade. Paul-Michel começou a ler Bataille e Blanchot por causa de Sartre – que publicou, em 1948, Situações I. Cinco anos mais tarde, em Paris, Paul-Michel assiste a estréia de Esperando Godot. Paul-Michel, muitos anos depois, diria aos entrevistadores: Nessa época eu sonhava ser Blanchot.
Há 11 horas
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