sexta-feira, 30 de abril de 2010

O estilo de Bernhard Schlink

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Muito antes do filme, O leitor já era um grande livro. Um bom livro. Um bom livro porque o problema que Schlink colocava em pauta era fundamental – o mesmo problema que Sebald destrinchou nas suas conferências em Zurique sobre literatura e guerra aérea: o silêncio da literatura alemã diante do passado nazista, etc. Schlink é o caso típico da articulação de um estilo supérfluo com um tema/motivo interessantíssimo. Na medida em que apresenta um viés instigante para um osso duro de roer da modernidade (o nazismo, o Holocausto), O leitor é imprescindível – mas não é suficiente para tornar Schlink um escritor imprescindível, sobretudo diante da inocuidade dos outros livros que apareceram.

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Aspecto interessante em Schlink: a articulação do direito com a literatura - mas em uma perspectiva diferente (suplementar) daquela que vemos em Agamben, Benjamin, Kafka ou ________. Isso continua não salvando seu estilo. Thomas Bernhard é, algumas vezes, o inverso: estilo imprescindível com temas/motivos desnecessários. A obra de arte forte é, evidentemente, aquela que antecipa, condensa e ultrapassa essa dialética entre o estilo e a temática: Coetzee, Canetti, Rubem Fonseca.

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2 comentários:

  1. O estilo do Coetzee não te parece meio sem sal, de vez em quando? Objetivo demais, sem uma só frase de "ligar pra mãe". Mais um escritor de ideias e de percepção do que um escritor de estilo.

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  2. Pensando no teu critério para obra de arte forte, só consigo pensar em Javier Marías. Esses dias eu acordei com a frase "Estamos em 2010 e Javier Marías segue sendo o maior escritor vivo." Não sei daonde veio essa frase.

    "Tu rostro mañana", Kelvin. Esse é o livro que vai mudar tua vida.

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