1- Ricardo Piglia costumava dizer em entrevistas que a literatura norte-americana era a literatura universal em um único idioma – talvez porque reúna vertentes estilísticas e pertencimentos culturais os mais diversos.
2- Paul Auster dedica Leviatã, seu melhor livro, a Don DeLillo.
3- Nicanor Parra diz que os EUA é o único país onde a liberdade é uma estátua.
4- Auster está próximo de Philip Roth em alguns momentos de idealização da natureza – leitores empenhados de Thoreau e Walt Whitman.
5- Roth foi mais longe: efetivamente se recolheu em uma propriedade isolada no interior.
6- Mas só para ver que a loucura comunitária também estava lá: a agência postal que explode na Pastoral americana, a vergonha que acompanha o retiro do professor em A marca humana.
7- Cultura pop, II Guerra, Guerra do Golfo: temas para Roth, DeLillo, Pynchon, mas Auster fica de fora.
8- Submundo é o grande livro sobre o baseball; O paraíso é bem bacana é o temos sobre o futebol.
9- O primeiro segue a bola, como uma relíquia que capitaliza o tempo e transforma a devoção em mercadoria; o segundo segue um maluco, um Messias de plástico de pouca serventia.
10- A tradição Argentina aglutina: transforma o corpo em relíquia (Evita embalsamada, a mão de Perón e o cadáver de Arlt sobre a cidade).
11- A especificidade norte-americana está na forma ou no estilo?
12- Lolita: um monomaníaco profundamente norte-americano em um estilo completamente estrangeiro.
13- Onde há mais Faulkner: Saer ou McCarthy?
14- Roth ouviu Thomas Mann falar na década de 50, quando estava na universidade em Chicago.
15- O que fica de Cosmópolis, O arco-íris da gravidade e O complexo de Portnoy é o estilo, reverberando no ouvido anos a fio; o que fica de Fogo pálido, Submundo e O avesso da vida é a forma, concatenação, estrutura e inventividade da montagem.
16- Forma e estilo: Enquanto agonizo, Palmeiras selvagens e Meridiano sangrento.
17- Roth casou com uma britânica, Auster com uma escandinava, a mulher de Safran Foer escreve muito melhor que ele, DeLillo trabalhou com publicidade e Gore Vidal é gay.
18- Portnoy tem um glossário de termos judaicos; Vineland tem um glossário de termos televisivos; Libra tem um glossário de termos de espionagem.
19- Lolita escrito por Faulkner: sempre o mesmo vestido, pés descalços, Lolita grávida e sem goma de mascar.
20- Lolita escrito por Don DeLillo: constante cobertura televisiva e fotos de Humbert Humbert nu vendidas a uma revista.
21- Libra escrito por Nabokov: em Moscou, Lee Harvey Oswald descobriria seu destino nas linhas de um poeta simbolista russo, lentamente traduzido no porão de um paiol abandonado.
22- J.M. Coetzee foi preso e expulso dos EUA por causa da Guerra do Vietnã; Giorgio Agamben recusou um cargo na Universidade de Nova Iorque por causa da guerra no Iraque.
23- Terrorista (Updike) é uma tentativa mal-sucedida de inserir a realidade na ficção; Leviatã (Auster) é uma tentativa bem-sucedida de inserir a ficção na realidade.
24- André Breton fez questão de somente falar francês, e de não aprender nenhuma palavra em inglês, na breve estada que desfrutou em Nova Iorque, século passado.
25- “América, 1944: lugar de alucinações febris, sobretudo para os refugiados de língua alemã, expostos ao primeiro e brutal contato com a sociedade industrial pura, muitas vezes com arrepios e recusas diante da ‘mecanização do espírito’. Naquele período, em grande quantidade, houve suicídios e desoladas solidões em apartamentos minúsculos de Nova York ou de Los Angeles. Muitos não resistiram, tornaram-se fantasmas patéticos da velha Europa, restos de uma cultura que ninguém mais tinha vontade de usar.” Roberto Calasso, Os 49 degraus, p. 125.
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