1) Ainda sobre Lukács e Kundera, descubro um texto que menciona o contato entre os dois: em um trabalho crítico da juventude, Kundera utilizou a Teoria do romance de Lukács para analisar a obra do vanguardista tcheco Vancura. A autora afirma, em seguida, que Lukács nunca mais apareceu nos trabalhos de Kundera - uma vez que o primeiro estava visceralmente ligado à "perigosa doutrina" marxista que, segundo Kundera, é contra o "espírito do romance".
2) Mas o risco não está apenas nas obras do presente vanguardista - há risco também no passado, no Tristram Shandy por exemplo. Lukács, na Teoria do romance, define o Tristram Shandy como "mero reflexo subjetivo de um fragmento de mundo meramente subjetivo, e portanto limitado, estreito e arbitrário" (p. 52). Sobre o tema, é preciso lembrar a ruidosa ausência de Sterne e do Tristram Shandy na Mimesis de Erich Auerbach (mesmo o capítulo sobre o Quixote, outro osso duro de roer da história literária, só foi incluído em 1950, na edição mexicana de Mimesis).
3) Chklóvski, por outro lado, colocou o Tristram Shandy como um dos eixos principais de sua releitura formalista da história literária. A consciência da forma, escreve Chklóvski em seu ensaio sobre o livro de Sterne, obtida graças a sua deformação constitui o próprio conteúdo do romance. Chklóvski (1893-1984) e Lukács (1885-1971), mesmo que contemporâneos em Moscou durante muitos anos (toda a década de 1930), pouco compartilhavam em termos de literatura (até quando liam os mesmos livros).
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