1) Em seu A guerra das imagens, Serge Gruzinski fala, entre muitas outras coisas, da engrenagem representacional posta em movimento pelos "descobridores" do Novo Mundo - descrições, desenhos, pinturas, relatos, comparações, analogias. Se Gruzinski fica mais restrito a Cortés e a região mexicana, Todorov, por outro lado, em A conquista da América, nota que semelhante engrenagem era compartilhada pelos vários "conquistadores": franceses, espanhóis, portugueses, ingleses, holandeses.
2) Era prática corrente de todos eles - franceses, espanhóis, portugueses, ingleses, holandeses - a captura dos nativos e o envio para a Europa. Mas o cenário é bem mais complicado que isso, porque o corpo do nativo servia como garantia dos relatos que chegavam antes - e, uma vez em sociedade, o nativo devia ser naturalizado, absorvido.
3) Daí as múltiplas possibilidades da engrenagem representacional: o nativo exposto para a corte, com suas roupas típicas (no caso dos esquimós, por exemplo), seus utensílios, sua canoa, suas pinturas e sua nudez. Em seguida, retratos de corpo inteiro, retratos só do rosto e, finalmente, retratos com trajes da "civilização". Como coloca Didi-Huberman, o que vemos, o que nos olha: quão tortuoso é um percurso representacional que veste o Outro com as roupas do Mesmo e o coloca exposto? Um teatro, um embuste, uma moeda falsa.
Conheci Gruzinski. E... hum.
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