quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

A centralidade sem centro de Lévi-Strauss


1) Com a distância histórica, o crítico se diverte na movimentação das peças, alterando precursores, traçando linhas de reciprocidade baseadas na analogia, construindo pontos de contato e estabelecendo tramas dialógicas. É o que faz Agamben, por exemplo, com relação a Lévi-Strauss - Lévi-Strauss como uma espécie de aleph do pensamento do século XX. A Claude Lévi-Strauss em respeitosa homenagem pelo seu septuagésimo aniversário, escreve Agamben no início de um dos capítulos de Infância e história.
2) A sugestão de uma centralidade sem centro de Lévi-Strauss para o pensamento do século XX pode ser levada adiante. Como aponta o próprio L-S, boa parte de seu trabalho é derivado dos problemas levantados por Saussure - o que força o recuo até a primeira década do século. Na década seguinte, temos a arte como procedimento de Chklóvski, primeiro esboço de um pensamento estético articulado estruturalmente - que será exaustivamente levado adiante por Propp em seu Morfologia do conto maravilhoso. Toda esse percurso é questionado, revisto e virado do avesso por Lévi-Strauss em 1960, quando ele publica um longo ensaio sobre os estudos de Propp (que gerou uma réplica, que gerou uma tréplica...).
3) Em entrevista recente, Roberto Calasso declarou que Lévi-Strauss temia a noção de sacrifício, pois ela ameaçava a solidez de seu sistema de pensamento - e, em seguida, Calasso fala de Bataille e de sua visão completamente diversa da dinâmica do ritual e do sacrifício (o que levaria a uma releitura conjunta de L-S e Bataille tendo justamente essa cisão como horizonte). Releitura que, até certo ponto, foi feita por Derrida já em 1967 na Gramatologia - dedicada, em grande medida, a descentralizar a centralidade de Lévi-Strauss no "inconsciente epistemológico" da época.

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