sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

Movimentos

"Os primeiros anos do século XX foram definidos com razão como a 'era dos movimentos'. Não somente os partidos cedem o lugar aos movimentos (assim como o movimento operário, o fascismo e o nazismo também se definem como 'movimentos'), tanto à direita quanto à esquerda do ordenamento político, mas também nas artes, nas ciências e em todo o âmbito da vida social os movimentos substituem a tal ponto as escolas e as instituições que é praticamente impossível fornecer uma lista exaustiva (é significativo que, em 1914, quando Freud buscou um nome para sua escola, tenha decidido ao fim por 'movimento psicanalítico').

Característica comum aos movimentos é uma decidida tomada de distância com relação ao contexto histórico no qual se produzem e à visão de mundo da época e da cultura à qual se contrapõem. Nesse sentido, também o movimento litúrgico participa dessa reação contra o individualismo humanista e a racionalização do mundo que definem muitos movimentos que se seguiram à Primeira Guerra Mundial" 

(Giorgio Agamben, Opus Dei, trad. Daniel Nascimento, Boitempo, 2013, p. 41).

2 comentários:

  1. A cinética domina a modernidade não? Será se Heidegger, apesar de muitos o considerarem conservador, não influenciou uma nova esquerda com seus trabalahos sobre Ser e Tempo? Uma nova esquerda existencialista? Não chega a ser irônico no século XX o terrorismo de Estado desenvolver tantas formas de ser-para-a-morte (obliteracao)? Exatamente nesse período surge a maior obra-prima sobre isso? O ser-aí.Nossa ecologia não poderia tomar como base os estudos de Heidegger, Uexkull, Deleuze e Sloterdijk?

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  2. Interessante você de imediato interpretar a ideia do "movimento" como uma ideia de "cinética" (e não o movimento como o conjunto de indivíduos num determinado tempo e lugar). Essa leitura na verdade está no próprio livro do Agamben: mais adiante ele relembra as aulas com Heidegger em 1966 e uma pergunta que o Mestre teria feito ao grupo: "qual o conceito fundamental de Aristóteles". Agamben diz que "o mais jovem dentre eles" (ele não diz o próprio nome, não diz "eu") respondeu: "kinesis, o movimento".

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